terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Ano Novo chega, trazendo para nós, moradores da Península de Itapagipe, a certeza de que a união realmente faz a força.

Orlando Valle*




Juntos, Podemos Tudo!

Inicialmente perplexos com a descoberta do decreto 19.418, do (des)governo municipal, que tornou de utilidade pública para fins de desapropriação, residências e estabelecimentos comerciais, da Calçada,de Canta Galo, Roma, Boa Viagem e Monte Serrat, em Itapagipe, que na sua vasta extensão, tem moradores que vivem em média, há mais de 80 anos, constatamos que a nossa reação à essa tentativa de expropriação, porém, nascida na ilegalidade, tornou-se motivo de unidade numa proporção que a própria comunidade desconhecia, e surtiu efeitos: o visível recuo da prefeitura com o adiamento da apresentação da maquete do projeto(redimensionado) por três vezes, uma grande indignação popular na cidade e uma maior cobertura da imprensa local, além de importantes veículos de comunicação, como o portal Terra, na internet, sediado em São Paulo.

A desfaçatez. inerente ao caráter político do prefeito de Salvador, considerado novamente, o pior prefeito entre nove capitais do Brasil(pesquisa Datafolha, entre 14 e 18 de dezembro de 2009), a terceira maior capital do país, aspira um desenvolvimento sustentável, incompatível com decretos dessa natureza.

Um prefeito como esse, irresponsável e dissimulado, que sem se reportar à comunidade atingida pelo decreto, ri ás custas de cidadãos, abusando da boa fé dos moradores e que se esconde como fazem os covardes, não deveria estar no maior posto público da cidade, cargo outrora ocupado por Luíz Tarquínio, primeiro prefeito afrodescendente de Salvador.

A avenida Paralela, pode ser considerada um exemplo emblemático, com a devastação que ora se faz da Mata Atlântica e com o caso surReal na região de Mussurunga, sem que se chegue a uma solução da Justiça sobre o assunto. A elite de Salvador pensa que é dona da cidade.

Além de Itapagipe, a prefeitura desapropria imóveis em outras áreas da cidade, como no Calabar e na Vila Brandão, todas cobiçadas pelo poder privado, que manda na cidade e no prefeito.

São tantos interesses da construção civil e seus coligados, todos com uma sede insaciável de poder e de manipulação da realidade; mas não estão acima do bem e do mal. Davi venceu Golias, essa metáfora prova que nem sempre vence o aparentemente mais forte.

Os efeitos já se fazem sentir na vida de moradores, empresários e comerciários: o que seria para dar intranquilidade e incerteza, tornou-se o principal combustível para os cidadãos, que, conscientes do estado de direito no qual vivem, irão buscar seu amparo na Justiça ou nas Cortes Internacionais, caso seja necessário.

Se Maria da Penha, a professora que sozinha, conseguiu fazer com que a Organização das Nações Unidas – ONU, fizesse a Justiça brasileira cumprir a Lei, tornando-se em ícone da luta pelos direitos das mulheres, imagine nós, um número muito maior de injustiçados?

Onde está o Conselho da Cidade, previsto na Lei Estatuto da Cidade e que deveria esta aprovando ou não todos os projetos para o município, como manda a lei?

Exigiremos a participação popular nas decisões que afetam a nossa vida, não uma imposição do poder público, que tem se pautado pelo interesse empresarial, a voz em off do prefeito, inconciliável com os interesses da população da cidade, notadamente a mais desvalida.

O que pensarão as empresas do exterior, os comitês da Copa do Mundo e da Olimpíada, quando souberem que as suas marcas serão vinculadas a ações comprovadamente ilegais por parte do poder (público?) municipal, que aliado à iniciativa privada local, passa por cima do Direito e da Constituição do Brasil, tornando-se motivo de desaprovação e censura?

Ações que destroem o rico patrimônio histórico, arquitetônico, ambiental, cultural e social, destroçando a vida de pessoas numa violência digna dos tempos de ditadura.

Vamos mostrar que a comunidade está organizada e que temos o apoio da sociedade civil organizada local, além de organismos internacionais.

E, como não poderia deixar de ser, em 2010, ano de eleições majoritárias, vamos fazer valer o mais legítimo e poderoso instrumento que temos: o voto.

Na eleição de 2010, vamos ter uma postura radical contra todos os inimigos da população de Itapagipe e de Salvador. Vamos varrer da vida política todos aqueles que compactuam com esses atos que tem ferido de morte, a cidadania de soteropolitanos, baianos e brasileiros.

Não vamos tolerar, presidente, governadores, deputados estaduais e federais e senadores omissos, indiferentes e corruptos.

A internet está aí, vamos divulgar para o país e o mundo todas as suas falcatruas, como o desvio de verbas da educação e da saúde para o carnaval passado.

Vamos, cobrar da imprensa local a continuidade das matérias sobre o decreto e demonstrar a nossa força, apesar de não termos um marketing milionário ilusionista, feito com dinheiro público, saído do bolso do povo e ironicamente usado contra ele mesmo.

Vamos acionar e cobrar dos órgãos públicos competentes, IPAC, SPU, Defensoria Pública, IMA, Ministérios Públicos Estadual e Federal, Marinha, IPHAN e Ministério das Cidades, um posicionamento claro para a sociedade quanto ao decreto. É hora de pôr ordem na casa. Vamos ouvir o CREA, o Instituto dos Arquitetos, o Movimento Vozes da Cidade, a UFBA e outros que tem competência para propor saídas para o estado em que a cidade se encontra, com graves problemas sociais e de infra-estrutura.

Queremos a Mata Atlântica, nossas praias, lagoas, rios despoluídos e descobertos e não aterrados.

Exigimos a orla de Salvador, considerada a mais feia do Nordeste, revitalizada para a população local, respeitando, recuperando e preservando as suas características históricas, sociais e ambientais, que são o nosso diferencial turístico. Precisamos de um projeto participativo de cidade. Queremos a riquíssima cultura de Salvador valorizada. Queremos ruas limpas! Que cidade é essa em que estamos vivendo? É possível ter orgulho dessa cidade?

Não se anda em Salvador sem risco de torcer o pé nas calçadas esburacadas, quando não há carros impedindo o seu uso, ou com a sujeira não lavada.

E o mal cheiro e o som alto?

É essa a cidade na qual criaremos nossos filhos e netos? E para a qual atrairemos mais turistas?

A cidade está “largada”!

Chega de incompetência!

Estamos organizados, mobilizados e atentos, aguardando a revogação do decreto!!!

SALVADOR NÃO TEM DONOS, MAS ELA TAMBÉM É NOSSA!

Enquanto isso, prestigiamos a tradicional procissão de Bom Jesus dos Navegantes, dia 1º de janeiro, a mais bela festa religiosa marítima do país, que faz parte do rico patrimônio material e imaterial da Península de Itapagipe, maravilha de Salvador, encravada na mente e nos corações de soteropolitanos e turistas de todas as partes do Brasil e do mundo que a conhecem.

Vamos, embalados pelo repicar dos sinos da bela igreja da Boa Viagem, pela luminosidade morena do “sol baiano”, pela cordialidade comunitária dos moradores e de seu “modus vivendi”, pelo cheiro de mar de dezembro, a bordo da “Galeota Gratidão do Povo”, construída em 1892, devolver aos céus, a alegria e a felicidade por termos nascidos num paraíso chamado Boa Viagem, em Itapagipe!

FELIZ 2010, SALVADOR!



*produtor cultural e presidente da AMEBV – Associação de Moradores e Empresários da Boa Viagem e Adjacências.

Nenhum comentário:

Postar um comentário