sexta-feira, 28 de agosto de 2009

MANIFESTO POPULAR DE MUSSURUNGA




O bairro de Mussurunga surgiu em 1970, desde então quase nada recebeu de infra-estrutura. O descaso dos poderes públicos só aumentou sua deficiência, como ausência de delegacia, maternidades, bibliotecas, entre tantas outras.

Sem estímulos, o bairro conta apenas com um pequeno comércio no setor-C, não condizente com as necessidades de sua população obrigada a buscar solução de seus problemas em outras localidades numa verdadeira odisséia, com o agravante do caótico serviço de transporte coletivo prestado, inadequado caro e insuficiente.

Mussurunga localiza-se na Av. Paralela, região que se valoriza a cada dia sendo alvo da especulação imobiliária. Não sem razão, pessoas são vistas no bairro tirando metragem de casas, ruas e quintais. Recentemente, a pretexto de construir o “canal de Mussurunga” promove-se a destruição sistemática de remanescentes da Mata atlântica, nivelando e aterrando a área verde, que se sabe, dará lugar a loteamentos e condomínios luxo. Uma lagoa natural teve sua vegetação de proteção soterrada por toneladas de barro num flagrante de agressão ao meio ambiente.

Não contentes, estão erguendo um muro em volta das casas, isolando a comunidade de futuras construções, transformando Mussurunga, possivelmente no único bairro “murado” do mundo, algo só visto no nazi-facismo. Acessos à Av. Paralela que se constroem aqui, poderão também ser privativos desses empreendimentos, a exemplos da pista exclusiva do loteamento Alphaville-2 configurando uma repetição do “Apartheid-social”, prática condenável da história da humanidade que se supunha extinta. De maneira truculenta e acintosa surrupiam áreas e quintais onde há décadas as pessoas vem exercendo o direito constitucional de posse e muitos praticam agricultura de subsistência, tirando da terra parte do seu sustento.

Essa ação danosa provocou uma tragédia de cunho social ainda maior, estão expulsando uma população de excluídos que há anos ocupa de modo ordeiro e pacifico as proximidades da lagoa danificada. Sob ameaças e intimidações, estão sendo compelidos a abandonarem suas casas, indivíduos armados e sem identificação são enviados para “convencer” os que se recusam a sair. Montanhas de barro acumuladas próximo às casas, servem como lembrete sinistro, para que não paire dúvidas sobre suas intenções, gerando aflição e desespero nas pessoas. Enfraquecidos em sua dignidade alguns até aceitaram demolir o próprio imóvel onde outrora viveram, viram seus filhos nascerem e crescerem e acalentaram sonhos e esperanças.

Este é o registro do que vem ocorrendo em Mussurunga, estando tais fatos a disposição de toda a sociedade. Nós manifestamos veementemente em repúdio a esse processo criminoso, injusto e imoral ao tempo em que conclamamos as pessoas de bem a juntarem-se a nós nessa empreitada, pois nada nos garante que novas investidas não serão feitas, quiçá, mais ousadas, face ao apetite insaciável dos que detém o poder do dinheiro.

NO CAMINHO COM MAIAKOUSKI

“[...] Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim, e não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz a garganta. É por que não dissemos nada, já não podemos dizer nada. [...]”

COSTA, Eduardo Alves (1936)

“[...] Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.[...]”

VANDRE, Geraldo (1964)

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